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O Cavalo de Turim

Entre os muitos infortúnios que marcaram a vida de Nietzsche (1844-1900), sua inteligência se destacou tanto quanto seu sofrimento lhe permitiu. Ainda criança, aos cinco anos, perdeu o pai e se mudou com sua mãe para uma existência melancólica cercada por beatas. Logo, um brilhante aluno, tornou-se o mais jovem professor de Filosofia na Universidade de Basileia. Contudo, seu intelecto prodigioso também o levou ao acaso de ser um adulto atormentado, doente e incompreendido. Vagava sem rumo, de país em país, onde apenas o vento azul parecia compreender seu espírito angustiado.


Nietzsche, filósofo errante, foi perseguido por pensamentos que o puniram por pensar além do bem e do mal. Escreveu suas obras mais significativas durante essa época, tentando lançar luz sobre seus demônios internos ao colocá-los no papel. Suas palavras, repletas de reflexões profundas e poesias filosóficas, desafiaram o passado, seus contemporâneos e a todos que lhe seguiram. Publicava, mas ninguém o compreendia ou aceitava. Enfrentava constantes enxaquecas, quase sem visão e sem a sua já frágil sanidade, quase se perdendo dentro em si.

Entre todas as paisagens que poderia escolher, foram as italianas que o acolheram. Em Turim, debilitado mentalmente, passeava pela cidade tentando aliviar suas dores mentais ou talvez esquecer os vislumbres pungentes de seus pensamentos.


Então, eis que um som perturbador interrompeu sua caminhada: um cavalo sendo brutalmente açoitado, recusando-se a obedecer ao seu dono, um camponês enfurecido. Nietzsche, tomado pelo desespero, correu em direção à cena. Com fúria e dor, atirou-se atroz contra o agressor, abraçando o cavalo como se sentindo em si os açoites.

Protegendo o cavalo com seu próprio corpo, Nietzsche desmaiou. Foi levado para casa, onde permaneceu em silêncio por dois dias. Assim terminou a trajetória de um dos maiores filósofos desde Kant: abraçado a um cavalo, chorando uma dor que não era apenas sua, mas de toda a natureza. Catatônico, com olhar perdido e sem palavras coerentes. Morreu uma década depois, sob os cuidados de sua irmã, Elisabeth Förster-Nietzsche, cuja falta de compreensão do irmão permitiu a deturpação de seu legado pelo Nazismo.

Por sua vez, o filme "O Cavalo de Turin (A Torinói Ló)", do cineasta húngaro Béla Tarr, vencedor do Urso de Prata (Grande Prêmio do Júri no festival de Berlim em 2011). Também possui em seu currículo outras grandes e formidáveis obras tais como "Sátántangó", "Perdição", "O Homem de Londres" e "A Harmonia Werchmeister".

Um filme monocromático em referência direta ao evento do colapso de Nietzsche. No entanto, não nos conta sobre a história do filósofo errante. Por sua vez, partindo deste evento, o filme busca recriar o percurso do camponês e sua filha, assim como do cavalo doente em sua existência dolorida. De resto, apenas interpretações, aproximações e entrelinhas de um filme que possui a força artística para arrebatar, logo de pronto, os apreciadores da sétima arte. Segue o trailer.


Bom filme!

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NIETZSCHE, F. A. Gaia Ciência. Tradu. Notas e posfácio de Paulo C. de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

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