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Pássaro azul

  Pássaro Azul É com a tinta da noite e os impulsos do coração que te escrevo A emoção que tua presença me inspira.  É na quietude das horas tardias, entre o arranhar e o lavar dos pratos,  Que te encontro na janela da minha alma,  Tua plumagem azulada refletindo o celeste dessa alma em paz.  Vejo-te no alto do mamoeiro, onde repousas majestoso em tua torre de contemplação,  És uma testemunha silenciosa do vento que adentra nesta casinha-mansão.  Ali, entre as folhas verdes e os murmúrios da brisa que acariciam os frutos dos teus desejos,  Tua presença é meu convite para olhar no espelho.  Mas como poderia descrever-te? Como outros poderiam te ver?  Sempre falo de ti e teus olhos negros cintilantes,  Mas quando apareces és tão singular, múltiplo e incerto,  Que nunca pareces com o desenho que fiz de ti!  E tenho de fechar meus olhos para ver-te!  - O Artientista Reflexões em 28 de abril de 2024.  Créditos da imagem: Vitória Régia Albuquerque da Silva (2024)

O Cavalo de Turim (Nietzsche)

Na solidão, texto para reflexão sobre um evento da vida do filósofo errante - Friedrich Nietzsche, ao final - sugestão de filme!


Entre todos os infortúnios de Nietzsche (1844 + 55 ~ 1900), a inteligência lhe foi maldição e de longe a pior delas. 

Ainda criança ficou sem pai aos 5 anos e em seguida se mudou com sua mãe para uma vida cercada por beatas melancólicas.

Agora, taciturno e solitário, o brilhante aluno também se torna o professor mais jovem de Filosofia na Universidade de Basileia. E como não pudera ser diferente, por sua maldição, torna-se também adulto fracassado, doente e incompreendido. Sem rumo e sem lar, de país em país, onde apenas o vento frio que vem do norte parece compreender tão sofrido espírito. 

Enfim, um filósofo errante perseguido por fantasmas, onde é punido por pensar "além do bem e do mal". 

Ainda nessa época, escreve a maior parte de seus trabalhos, e põe sua maldição no papel de modo a arrancá-la do âmago de sua garganta. Escreve muitas frases soltas e poemas filosóficos de causar aneurismas.

Também publica, mas ninguém lhe entende, ninguém quer. Agora, isolado em si, e atormentado por enxaquecas infindáveis, já perdendo a visão e lhe restando apenas a pouca sanidade, quase esvaída... perdida em si. 

Eis que dentre todas as paisagens bucólicas, resolve escolher as Italianas.

Vê-se, então, como outro hóspede de um grabato, com catre e cadeira, e também um banheiro coletivo no corredor. 

Nosso lastimável hóspede, já debilitado mentalmente, resolve passear pela cidade de Turim para lhe resfriar as pontadas de pensamento que lhe fincam como alfinetes, ou sabe apenas esquecer os vislumbres que lhe cortam como navalha. 

E, de súbito assustador, escuta um cavalo a ser açoitado na rua, um cavalo que se nega a caminhar para seu "dono", um camponês. 

De longe se ouve brados enraivecidos contra o indefeso animal. 

Nietzsche em completo desespero rompe à rua, com ranger de dentes, ódio atroz e se joga em direção do açoite, rosnando blasfêmias contra o covarde algoz, abraça o cavalo como nunca houvera abraçado antes... 

E como quem tenta impedir as brutalidades dos golpes com o seu próprio corpo, enfim - desmaia para nunca mais acordar, perde os sentidos e é levado para casa , onde permanece em silêncio por dois dias. 

Era uma vez, o fim do maior filósofo desde Kant: abraçado ao cavalo, chorando seu tormento, um tormento alheio, catatônico, sem frases inteligíveis, olhar parado e babando.

Morre uma década depois já sob os cuidados de sua irmã Elizabeth Förster-Nietzsche, a qual não compartilhou da inteligência do irmão e que, por falta dela, serviu para a lastimável interpretação de Nietzsche pelo Nazismo.

 

Já sobre o filme O Cavalo de Turin (A torinói Ló), do cineasta húngaro Béla Tarr, e vencedor do Urso de Prata- Grande Prémio do Júri no Festival de Berlim em 2011, último de carreira de Tarr, o qual possue em seu currículo outras grandes e formidáveis obras tais como: "Sátántangó", "Perdição", "O Homem de Londres" e "A Harmonia Werckmeister". 


Cita-se logo no título do filme, em tom monocromático, uma referência direta ao evento do colapso de Nietzsche. Entretanto, não nos conta a história do filósofo errante. 

E partindo deste evento, o filme busca recriar o percurso do camponês, da sua filha, do velho cavalo doente e sua existência miserável. De resto, apenas interpretações, aproximações e entrelinhas de um filme que possui a força artística para arrebatar, logo no primeiro instante, aqueles que o apreciam. 

Bom proveito.

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NIETZSCHE, F. A Gaia Ciência. Trad. Notas e Posfácio de Paulo C. de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

Comentários

  1. já assisti esse filme, autarquia...

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    1. Po, autarquia, mas também - você é quase um caminhão carregado de filme pirata

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