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Pássaro azul

  Pássaro Azul É com a tinta da noite e os impulsos do coração que te escrevo A emoção que tua presença me inspira.  É na quietude das horas tardias, entre o arranhar e o lavar dos pratos,  Que te encontro na janela da minha alma,  Tua plumagem azulada refletindo o celeste dessa alma em paz.  Vejo-te no alto do mamoeiro, onde repousas majestoso em tua torre de contemplação,  És uma testemunha silenciosa do vento que adentra nesta casinha-mansão.  Ali, entre as folhas verdes e os murmúrios da brisa que acariciam os frutos dos teus desejos,  Tua presença é meu convite para olhar no espelho.  Mas como poderia descrever-te? Como outros poderiam te ver?  Sempre falo de ti e teus olhos negros cintilantes,  Mas quando apareces és tão singular, múltiplo e incerto,  Que nunca pareces com o desenho que fiz de ti!  E tenho de fechar meus olhos para ver-te!  - O Artientista Reflexões em 28 de abril de 2024.  Créditos da imagem: Vitória Régia Albuquerque da Silva (2024)

Como Ser Um Bom Professor: Os Dez Mandamentos de George Pólya

Contemple, neste artigo, a perspectiva do sábio matemático George Pólya acerca da nobre arte de instruir.
George Pólya (1887 + 98 = 1985).


George Pólya (1887 + 98 = 1985), originário de Budapest, Hungria, ilustrou seu labor como professor de matemática desde 1914 até 1940 no ETH Zürich, na Suíça, e de 1940 a 1953 na venerada Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. 

Em distintas esferas da matemática, deixou legados significativos, abrangendo séries, teoria dos números, análise matemática, geometria, álgebra, combinatória e probabilidade. 


Mais que isso, seus notáveis feitos no domínio do ensino matemático ecoaram pelo mundo, revelando convicções sem artifícios, fórmulas, quimeras ou teorias pseudopsicológicas, revelando-se com notável franqueza e elegância, como se exprimisse mandamentos - dez em número - agora resumidos neste artigo.


Segue adiante uma porção do escrito divulgado no "Journal of Education", Universidade de British Columbia, Vancouver e Victoria, no ano de 1959, p. 61-69. Traduzido por Maria Celano Maia.

Os Dez Mandamentos para Professores

por George Pólya
(1959)

Nos últimos cinco períodos letivos, todas as minhas aulas foram dirigidas a professores secundários que, após alguns anos de prática, voltaram à Universidade para mais treinamento.

Eles desejavam, segundo entendi, um curso que fosse de uso prático imediato nas suas tarefas diárias.

Tentei planejar um tal curso no qual, inevitavelmente, eu teria de expressar repetidas vezes minhas opiniões sobre o dia-a-dia do professor. 

Meus comentários foram aos poucos assumindo uma forma condensada e finalmente fui levado a enunciá-los como
dez regras, ou mandamentos.

Para tornar claro o significado dos
mandamentos deveria ter acrescentado exemplos ilustrativos mas, em vista da exiguidade de espaço, isso ficou fora de cogitação.

Alguns pontos são ilustrados em meus livros (1), e outros serão discutidos noutro livro ao qual este artigo, ou seu conteúdo sob outra forma, será incorporado.


Dez Mandamentos

  1. Tenha interesse por sua matéria.
  2. Conheça sua matéria.
  3. Procure ler o semblante dos seus alunos; procure enxergar suas expectativas e suas dificuldades; ponha-se no lugar deles.
  4. Compreenda que a melhor maneira de aprender alguma coisa é descobri-la você mesmo.
  5. Dê aos seus alunos não apenas informações, mas know-how, atitudes mentais, o hábito de trabalho metódico.
  6. Faça-os aprender a dar palpites.
  7. Faça-os aprender a demonstrar.
  8. Busque, no problema que está abordando, aspectos que possam ser úteis nos problemas que virão ─ procure descobrir o modelo geral que está por trás da presente situação concreta.
  9. Não desvende o segredo de uma vez ─ deixe os alunos darem palpites antes ─ deixe-os descobrir por si próprios, na medida do possível.
  10. Sugira; não os faça engolir a força.

Comentários

Ao formular os mandamentos, ou regras, acima, tive em mente os participantes das minhas classes, professores secundários de Matemática. 


Entretanto, essas regras se aplicam a qualquer situação de ensino, a qualquer matéria ensinada em qualquer nível.


Todavia, o professor de Matemática tem mais e melhores oportunidades de aplicar algumas delas do que o professor de outras matérias.


Vamos agora considerar as dez regras, uma por uma, prestando atenção especial à tarefa do professor de Matemática.

Quando um ensina, dois aprendem...

1 ─ Tenha interesse por sua matéria




É muito difícil prever com segurança o sucesso ou fracasso de um método de ensino. 



Mas há uma exceção: você aborrecerá a audiência com sua matéria se esta matéria o aborrece


Isto deve ser suficiente para tornar evidente o primeiro e principal dos mandamentos do professor.


2 ─ Conheça a sua matéria



Se um assunto não interessa o professor, ele não será capaz de ensiná-lo aceitavelmente. 

Interesse é sine qua non, uma condição indispensavelmente necessária, mas, em si mesma, não uma condição suficiente. 


Nenhuma quantidade de interesse, ou de métodos de ensino, permitirá que você explique claramente um ponto a seus alunos se você próprio não entender mais claramente ainda esse ponto. 



3 ─ Procure ler o semblante dos seus alunos; procure enxergar suas expectativas e suas dificuldades; ponha-se no lugar deles




Mesmo com algum conhecimento e interesse, você pode ser um bom professor ou um bem medíocre. 

O caso não é muito comum, admito, mas tampouco é raro: muitos de nós conheceram professores que sabiam suas matérias mas não eram capazes de estabelecer contato com os seus alunos.

Procure ler o semblante dos seus alunos. ...ponha-se no lugar deles.
Para que o ensinar, por parte de um, resulte no aprender, por parte de outro, deve haver uma espécie de contato ou conexão entre professor e aluno: o professor deve ser capaz de perceber a posição do aluno; ele deve ser capaz de assumir a causa do aluno.

4 ─ Compreenda que a melhor maneira de aprender alguma coisa é descobri-la você mesmo




As três regras anteriores contêm a essência do bom ensino; elas formam, juntas, uma espécie de condição necessária suficiente. 

Se você tem interesse e conhecimento, e é capaz de perceber o ponto de vista do aluno, você já é um bom professor ou logo se tornará um; só precisa de experiência.


Experiência é necessária , experiência prática, para pô-lo a par das interações entre professor e alunos na sala de aula, e para familiarizá-lo, tão intimamente e pessoalmente quanto possível, com o processo de aquisição de novas informações e habilidades ─ um processo que tem muitos e vários aspectos: aprendizagem, descoberta, invenção e compreensão... 

Os psicólogos fizeram trabalhos experimentais muito importantes e emitiram algumas opiniões teóricas interessantes sobre o processo de aprendizagem. 


Tais experiências e opiniões podem servir como uma base estimulantes para um professor excepcionalmente receptivo, mas elas ainda não amadureceram suficientemente (e não amadurecerão por um bom tempo, temo eu) para ser de uso imediatamente prático naquelas fases de instrução que nos concernem aqui. 


Em seu trabalho diário, o professor deve basear-se, primeiro e antes de tudo, na sua própria experiência e no seu próprio julgamento.


Baseando-me em meio século de experiência em pesquisa e ensino, e de reflexão muito cuidadosa, apresento aqui, para consideração do leitor, alguns pontos sobre o processo de aprendizagem, os quais eu considero como os mais importantes para uso em sala de aula.


Já se disse repetidas vezes que a aprendizagem ativa é preferível à aprendizagem passiva, meramente receptiva. Quanto mais ativa, melhor é a aprendizagem.


De fato, numa situação ideal, o professor seria somente uma espécie de parteira espiritual. ele daria oportunidade aos alunos de descobrirem por si mesmos as coisas a serem aprendidas.


Este ideal é dificilmente alcançado na prática, sobretudo por falta de tempo. Contudo, mesmo um ideal inatingível pode guiar-nos indicando a direção correta ─ ninguém ainda atingiu a Estrela Polar, mas muitas pessoas encontraram o rumo certo guiando-se por ela.


5 ─ Dê aos seus alunos não apenas informações, mas know-how, atitudes mentais, o hábito de trabalho metódico






O conhecimento consiste em parte de informação e em parte de know-how. Know-how é destreza; é a habilidade em lidar com informações, usá-las para um dado propósito; know-how pode ser descrito como um apanhado de atitude mentais apropriadas, know-how é em última análise a habilidade para trabalhar metodicamente.

Em Matemática, know-how é a habilidade para resolver problemas, construir demonstrações, e examinar criticamente soluções e demonstrações. 


E, em Matemática, know-how é muito mais importante do que a mera posse de informações.


Já que know-how é mais importante em Matemática do que informação, a maneira como você ensina pode ser mais importante nas aulas de Matemática do que aquilo que você ensina.
Faça-os aprender a dar palpites. Faça-os aprender a demonstrar.
6 ─ Faça-os aprender a dar palpites




Primeiro conjecture, depois prove ─ assim procede a descoberta na maioria dos casos. 

Você deveria saber disto (pela sua própria experiência, se possível) e deveria saber, também, que o professor de Matemática tem excelentes oportunidades de mostrar o papel da conjectura no processo de descoberta e assim imprimir em seus alunos uma atitude mental fundamentalmente importante. 


Este último ponto não é tão amplamente conhecido como deveria ser e, infelizmente, o espaço aqui disponível é insuficiente para discuti-lo em detalhes (1). 


Ainda assim, desejo que você insista com seus alunos a respeito.


Alunos ignorantes e descuidados provavelmente vão dar palpites rudimentares. 


Os palpites que nós queremos estimular, naturalmente; não são os rudimentares, mas os educados, os razoáveis. 


Palpites razoáveis baseiam-se no uso judicioso de evidência indutiva da analogia, e englobam em última análise todos os procedimentos do raciocínio plausível que desempenham um papel no método científico (1).


7 ─ Faça-os aprender a demonstrar





"A Matemática é uma boa escola para o raciocínio plausível". 

Esta afirmativa resume a opinião subjacente à regra anterior; ela soa incomum e é de origem muito recente; na realidade, o autor do presente artigo reivindica seu crédito.


"A Matemática é uma boa escola para o raciocínio demonstrativo". 


Esta afirmativa soa bem familiar ─ algumas formas dela são provavelmente quase tão velhas quanto a própria Matemática. 


De fato, muito mais é verdade; Matemática tem quase o mesmo significado que o raciocínio demonstrativo, o qual está presente nas Ciências na medida em que os seus conceitos se elevam a um nível lógico-matemático suficientemente abstrato e definido. 


Abaixo deste alto nível, não há lugar para raciocínio verdadeiramente demonstrativo (o qual não tem lugar, por exemplo, nas tarefas do dia-a-dia). 


Ainda assim (é desnecessário discutir-se tal ponto, tão amplamente aceito) os professores de Matemática devem colocar os seus alunos, salvo os das classes mais elementares, em contato com o raciocínio demonstrativo.


8 ─ Busque, no problema que está abordando, aspectos que possam ser úteis nos problemas que virão ─ procure descobrir o modelo geral que está por trás da presente situação concreta






Know-how é a parte mais valiosa do conhecimento matemático, muito mais valiosa que a mera posse de informação. 

Mas como devemos ensinar know-how


Bom, os alunos só podem aprendê-lo através de imitação e prática.


Quando você apresentar a solução de um problema, enfatize convenientemente os aspectos instrutivos da solução


Um aspecto é instrutivo se merece imitação; isto é, se puder ser usado não somente na solução do presente problema, mas também na solução de outros problemas ─ quanto mais puder ser usado, mais instrutivo.


Enfatize os aspectos instrutivos não somente louvando-os (o que poderia causar efeito contrário em alguns alunos),


Mas através de seu comportamento (um pouco de dramatização é muito bom se você tiver uma pontinha de talento).


Um aspecto bem enfatizado pode converter a sua solução numa solução modelo, num padrão marcante; imitando-o, os alunos resolverão muitos outros problemas.

...deixe-os descobrir por si próprios, na medida do possível. ...não os faça engolir à força.

9 ─ Não desvende o segredo de uma vez ─ deixe os alunos darem palpites antes, na medida do possível



Eu gostaria de indicar aqui um pequeno truque que é fácil de aprender e que todo professor deveria conhecer. 

Quando você começar a discutir um problema, deixe que seus alunos adivinhem a solução.


O aluno que concebeu um palpite, ou mesmo que tenha anunciado seu palpite, empenha-se: ele tem que seguir o desenvolvimento da solução para ver se o seu palpite estava certou ou não. 


Ele não pode permanecer desatento.


Este é um caso muito especial da regra seguinte, que tem pontos em comum com as regras 4 e 6: Não desvende o segredo de uma vez ─ deixe os alunos darem palpites antes ─ deixe-os descobrir por si próprios, na medida do possível.


10 ─ Sugira; não os faça engolir à força




Um aluno apresenta um longo cálculo que ocupa várias linhas. 

Olhando para a última linha, vejo que o cálculo está errado, mas me abstenho de dizer isso.


Prefiro acompanhar o cálculo com o aluno, linha por linha: "você começou bem; sua primeira linha está correta. 


A linha seguinte também está correta, você fez isto e aquilo. A próxima linha está boa. 


Agora, o que você acha desta linha?"


O engano está naquela linha e, se o aluno descobre o erro por si mesmo, ele tem uma chance de aprender algo. 


Se, no entanto, digo logo "Isto está errado", o aluno poderá se ofender e aí não ouvirá o que eu possa dizer depois. 


E se digo "Isto está errado" a todo instante, o aluno poderá odiar a mim e à Matemática, e todos os meus esforços estarão perdidos em relação a ele.

Evite dizer "Você está errado". Em vez disso, se possível diga: "Você está certo, mas..."
Se você procede assim, você não é hipócrita, você é somente humano. 

Que você deve proceder assim, está implicitamente contido na regra 4. 


Assim, nós podemos tornar o conselho mais explicito: sugira; não os faça engolir à força.
 
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( 1 ) PÓLYA, George. Mathematics and Plausible Reasoning. Princeton University Press: Princeton, New Jersey. 1954.

( 2 ) LIMA, Elon de Lages. Os Dez Mandamentos para Professores. Sociedade Brasileira de Matemática.
  
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E você? O que achou das opiniões expressas pelo grande professor George Pólya? Que tal citar o ponto de vista de algum outro autor, ou mesmo sua opinião? 
 
Deixe um comentário logo abaixo e vamos juntos enriquecer essa discussão!

Sua opinião é muito importante!






Comentários

  1. Ótimo texto.
    Tenho tido interesse em me tornar professor, especificamente de matemática.
    Desconhecia completamente esse George Pólya. Achei o artigo muito interessante e condizente com meu ponto de vista pessoal.
    Um ponto interessante que posso frisar na posição de aluno é o que diz a regra 9 que eu nunca parara pra observar: às vezes, estou desinteressado em uma aula e o(a) professor(a) faz uma pergunta e ninguém arrisca um palpite, eu prontamente respondo com o que me parece mais plausível. Depois disso, mesmo sem interesse na aula eu me sinto forçado a prestar atenção para saber se o meu palpite estava correto. Ou seja, estimular palpites além de fazer aprender sozinho, estimula a atenção.
    Arrisco também dizer que o que mais falta no cenário atual é o estímulo a demonstrações, é o que eu mais observo no meu meio acadêmico como estudante de engenharia.
    Existe um livro que pretendo ler que se chama A Paixão da Física (do original em inglês For the Love of Physics) escrito pelo professor de física aposentado do MIT. Para ele o ensino da Física era uma arte.
    Parabéns pela estreia do blog :)

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    Respostas
    1. Daniel Assis Carneiro2 de outubro de 2016 às 21:56

      Esqueci de dizer que o nome do ex professor de física é Walter Lewin.

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    2. Olá, Daniel. Infelizmente, só recentemente passei a acompanhar de perto o trabalho do incrível professor Walter Lewin, você deu uma ótima sugestão; o título do livro, "Por Amor à Física", resume bem o segredo de suas aulas apaixonantes. Sobre as regras acima, como também pretendo ser professor, de física nesse caso, não pude deixar de notar o desejo do professor George Pólya em deixar evidente com tais regras que o mais importante é formar "pessoas auto-pensantes" com o fundamental de conteúdo, do que "pessoas com preguiça de pensar". Até que enfim estreou (Rs). Muito obrigado, meu amigo.

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  2. Super gostei do artigo, principalmente dos dez mandamentos em específico o 9, pois acredito que esse hoje em dia é o grande gargalo da educação, a falta de deixar o aluno resolver as questões, os problemas que lhes são propostos.

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