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Pintura: "Sementes", acrílico sobre madeira 77 x 50 cm

  




Pintura "Sementes", acrílico sobre madeira 77 x 50 cm
por J. Caraumã

Na base da economia yanomami, a floresta não é, para eles, um espaço de exploração de recursos; ao contrário, é uma entidade viva, intimamente ligada à sua cosmologia.

No livro A queda do céu, conta-se que os espíritos xapiri, por exemplo, colhem seus cantos a partir das árvores:

“Omama plantou essas árvores de cantos nos confins da floresta, onde a terra termina, onde estão fincados os pés do céu […]. É a partir de lá que elas distribuem, sem trégua, suas melodias a todos os xapiri que correm até elas. São árvores muito grandes, cobertas de penugem brilhante de uma brancura ofuscante. Seus troncos são cobertos de lábios que se movem sem parar, uns em cima dos outros.”

Essa floresta é chamada de Hutukara. Segundo a mitologia yanomami, Omama a criou no “primeiro tempo”, quando havia apenas os yarori (ancestrais sobrenaturais que hoje são os animais de caça) e uma floresta frágil.

Para criar outra mais sólida, Omama derrubou o céu sobre a antiga área e, a partir dele, ergueu a nova terra, onde também colocou as árvores, as montanhas, os rios e os animais.

“Os Yanomami não existem à toa. Não caíram do céu. Foi Omama que os criou para viver na floresta”, escreve Kopenawa no livro escrito com Bruce Albert. “O pensamento deles segue caminhos outros que o da mercadoria”, diz, em outra passagem do texto.

Segundo a narrativa, ao criar a floresta, Omama escondeu os minérios sob o chão. Para os Yanomami, eles são as lascas do céu que caiu no primeiro tempo. “São coisas maléficas e perigosas, impregnadas de tosses e febres, que só Omama conhecia”, escreve Kopenawa.

Além de guardar as epidemias (que os Yanomami chamam de xawara), os metais servem para fincar os pés do céu no solo, evitando que ele saia do lugar. Sem essas estacas, a terra teria se tornado arenosa e quebradiça, e o céu teria desabado — como no princípio.

Esse fenômeno esmagaria os Yanomami, se acontecesse, segundo Kopenawa: “Quando, às vezes, o peito do céu emite ruídos ameaçadores [como trovões], mulheres e crianças gemem e choram de medo.” Para sustentá-lo, as comunidades recorrem aos xamãs.

Referência

Livro "A queda do céu: palavras de um xamã yanomami", Davi Kopenawa e Bruce Albert.


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