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Queridos leitores, Hoje anuncio a mudança de endereço do artientista.blogspot.com , meu cantinho desde 2016, com o coração repleto de gratidão.  Durante estes quase dez anos, compartilhei com vocês descobertas, reflexões e inspirações que brotaram de um labor apaixonado. Cada comentário, cada visita silenciosa, cada ideia trocada foi um presente que me incentivou a pensar diferente, e por isso lhes digo: obrigado. Como bem escreveu Khalil Gibran em O Profeta , na parte “Sobre o Dar”: “Vós dais pouco quando dais de vossas posses. É quando dais de vós mesmos que dais de fato.” Khalil Gibran, O Profeta (1923) De coração aberto, sinto que doei a mim mesmo em cada texto, e recebi em troca o tesouro inestimável da amizade e do calor humano de cada um de vocês. Agora, entro numa nova etapa, convido-os a me acompanhar no novo endereço,  caraumã.com , um espaço reformulado, com visual renovado e conteúdo aprimorado.  Ali, continuarei a partilhar minhas ideias, sempre busc...

Pintura: "Sementes", acrílico sobre madeira 77 x 50 cm

  




Pintura "Sementes", acrílico sobre madeira 77 x 50 cm
por J. Caraumã

Na base da economia yanomami, a floresta não é, para eles, um espaço de exploração de recursos; ao contrário, é uma entidade viva, intimamente ligada à sua cosmologia.

No livro A queda do céu, conta-se que os espíritos xapiri colhem seus cantos a partir das árvore. E diz ainda:

“Omama plantou essas árvores de cantos nos confins da floresta, onde a terra termina, onde estão fincados os pés do céu […]. É a partir de lá que elas distribuem, sem trégua, suas melodias a todos os xapiri que correm até elas. São árvores muito grandes, cobertas de penugem brilhante de uma brancura ofuscante. Seus troncos são cobertos de lábios que se movem sem parar, uns em cima dos outros.”

Essa floresta é chamada de Hutukara. E segundo a mitologia yanomami, Omama a criou no “primeiro tempo”, quando havia apenas uma floresta frágil e os yarori (ancestrais sobrenaturais que, hoje, são os animais de caça).

E para criar outra mais "sólida", Omama derrubou o céu sobre a antiga área e, a partir dela, ergueu a nova terra, onde também colocou as árvores, as montanhas, os rios e os animais. E acrescenta:

“Os Yanomami não existem à toa. Não caíram do céu. Foi Omama que os criou para viver na floresta”, escreve Kopenawa no livro escrito com Bruce Albert. “O pensamento deles segue caminhos outros que o da mercadoria”, diz, em outra passagem do texto.

Por fim, ao criar a floresta, Omama escondeu os minérios sob o chão. E para os Yanomami, eles são as lascas do céu que caiu no primeiro tempo, isto é, “são coisas maléficas e perigosas, impregnadas de tosses e febres, que só Omama conhecia”, como escrevem os autores.

Além de guardar as epidemias (que os Yanomami chamam de xawara), os metais servem para fincar os pés do céu no solo, evitando que ele saia do lugar. Sem essas estacas, a terra teria se tornado arenosa e quebradiça, e o céu teria desabado — como no princípio.

Esse fenômeno esmagaria os Yanomami, se acontecesse. E segundo Kopenawa: “quando, às vezes, o peito do céu emite ruídos ameaçadores [como trovões], mulheres e crianças gemem e choram de medo.” E para que não caia, as comunidades recorrem aos xamãs.

Referência

Livro "A queda do céu: palavras de um xamã yanomami", Davi Kopenawa e Bruce Albert.


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