Pular para o conteúdo principal

Talvez você goste

Pássaro azul

  Pássaro Azul É com a tinta da noite e os impulsos do coração que te escrevo A emoção que tua presença me inspira.  É na quietude das horas tardias, entre o arranhar e o lavar dos pratos,  Que te encontro na janela da minha alma,  Tua plumagem azulada refletindo o celeste dessa alma em paz.  Vejo-te no alto do mamoeiro, onde repousas majestoso em tua torre de contemplação,  És uma testemunha silenciosa do vento que adentra nesta casinha-mansão.  Ali, entre as folhas verdes e os murmúrios da brisa que acariciam os frutos dos teus desejos,  Tua presença é meu convite para olhar no espelho.  Mas como poderia descrever-te? Como outros poderiam te ver?  Sempre falo de ti e teus olhos negros cintilantes,  Mas quando apareces és tão singular, múltiplo e incerto,  Que nunca pareces com o desenho que fiz de ti!  E tenho de fechar meus olhos para ver-te!  - O Artientista Reflexões em 28 de abril de 2024.  Créditos da imagem: Vitória Régia Albuquerque da Silva (2024)

Mitologia Indígena: Olhar Tupinambá sobre a Origem do Mundo

A criação do Universo contada a partir do olhar mitológico indígena da tribo dos Tupinambá.

"Nesse mundo inaugural, misterioso e obscuro, era o Velho".
Desenho que fiz a lápis em Papel Canson - A4.

Que seja dito, "Meu Destino é Ser Onça", livro de Alberto Mussa, é uma maravilhosa contribuição aos estudos das culturas indígenas do Brasil. 

Buscando "restaurar" a narrativa mitológica da tribo tamoio (os tupinambá do Rio de Janeiro), concebe um texto único a partir da leitura cruzada de fragmentos e registros feitos pelo frade André Thevet sobre a cultura indígena durante a ocupação da Baía de Guanabara, em 1550, incluindo outras fontes dos séculos XVI e XVII.

Pode-se dizer ainda que o imaginário produzido a partir do olhar e das referências dos indígenas brasileiros é tão rico e profundo quanto o de outros livros fundadores da cultura Ocidental, e ainda, sem dever nada aos gregos. Tenha uma ótima leitura.

Abaixo, segue também a belíssima canção de Leo Rojas em concerto - "El Condor Pasa", do álbum "Spirit of the Hawk" (2012).


"Um Ornamento para o Céu"


"No princípio o universo era provavelmente muito escuro. Talvez fosse formado por um espaço sólido, totalmente ocupado pelos morcegos originais, que batiam asas negras e eternas. Ou apenas por uma absoluta escuridão, projetada pela sombra das corujas primitivas.
 
Nesse mundo inaugural, misterioso e obscuro, era o Velho. Se foi criado, se criou a si mesmo, se existia desde sempre, só os caraíbas sabem exatamente. O Velho tinha corpo, cabeça, braços, pernas; e segurava um cajado. Alguma imperfeição deve ter insinuado no Velho o desejo de criar o céu.

E o céu foi feito de pedra. E o Velho começou a caminhar por ele. Todavia, quando olhava para cima, ainda via as trevas primitivas. Deve ter sentido uma tal necessidade de beleza que, para ornamentar o céu, concebeu a terra- completamente lisa, completamente plana. Achou tão bela essa nova criação que quis morar nela.

Mas o Velho estava só. Foi quando decidiu criar os homens, esculpidos em troncos de árvores. Para alimentá-los, o Velho fazia uma chuva fina fecundar a terra. E da terra brotavam as árvores, e das árvores brotavam os frutos. O pau de cavar ia sozinho desenterrar as raízes. As flechas iam sozinhas caçar os animais. Sem trabalho, os homens apenas comiam, bebiam e dançavam.

E o Velho frequentava todas as ocas, e dançava, bebia e comia com eles. Os homens mostravam respeito pelo Velho: limpavam o caminho em que ele ia pisar. Quando ele chagava, ofereciam uma rede, para que descansasse, e choravam diante dele. Um dia, o Velho chegou numa aldeia- mas, para sua surpresa, ninguém veio limpar o caminho, ninguém lhe ofereceu uma rede, ninguém chorou diante dele.

Parecia que o Velho não existia, que não tinha sido ele quem criara os homens. O Velho, então, imaginando que estivessem loucos, foi procurar outra aldeia. No entanto, o descaso se repetiu. E se repetiu novamente. Aquele comportamento foi se tornando geral. O Velho concluiu que os homens tinham se esquecido dele. E se sentiu completamente só.

Revoltado com a ingratidão humana, o Velho fez descer do céu um fogo devastador. No entanto, entre todos os homens, havia um que não era mau, que nunca tinha deixado de honrar o Velho: o Pajé do Mel. Assim, enquanto o fogo queimava a terra, enrugando e encrespando sua superfície- e formando as montanhas e as depressões- o Velho pôs o Pajé do Mel a salvo do fogo, numa região hoje desconhecida.

O Pajé do Mel assistiu à fúria do incêndio, que matava os homens e aniquilava a terra. “Velho, porque destruir o céu e o seu ornamento?... E agora? Onde faremos nossa oca?” Mas logo percebeu que a intenção do Velho era ficar no céu; e que ele, o Pajé do Mel, viveria sozinho naquele recanto da terra poupado das chamas.

O velho, então se comoveu. E com seu poder misterioso, criou Tupã. E Tupã correu pelos quatro cantos do universo, provocando assim uma tremenda tempestade. E o aguaceiro do céu extinguiu o fogo da terra. E as águas torrenciais dessa chuva correram pelas montanhas e pelos regos formados durante o incêndio, arrastando as cinzas de tudo que fora queimado, até encher uma imensa depressão, dando origem ao mar.

Por isso, porque as águas do temporal provocado por Tupã arrastaram consigo as cinzas das coisas queimadas, o mar é tão salgado e de paladar tão ruim. E o Velho, observando a terra, vendo que ela estava toda envolvida pelo mar, achou que tinha ficado ainda mais bela.

Por isso moldou o Velho a primeira mulher, para que o Pajé do Mel povoasse a terra de homens melhores. Quando o casal olhava para cima, podia ver o velho, segurando seu cajado. O Velho é Túibae, a primeira constelação que apareceu no céu."


Leo Rojas apresenta seu grande sucesso ao vivo com a Orquestra no concerto di natale 2019

Referência:

Meu Destino é Ser Onça. Alberto Mussa. Editora: Record Quanto. 2008.

Comentários

Postagens mais visitadas