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Goiabeira

  Goiabeira Eu ficaria aqui, embaixo de ti, como a tua sombra que acompanha o sol. Ficaria sempre aqui, apenas um menino, sem casa e sem rumo, aos teus pés a cochilar. Aqui eu ficaria, como o duro desse chão que abraça tua raiz; Como o tempo da estação que faz a fruta cair com tua aprovação. Ali, bem acima de mim, onde o vento fala de ti, contam galhos e silêncios; Bem aqui eu me deitaria, onde rezam os passarinhos, e, com folhas, me cobriria. Em ti não subiria. Seria teu chão, tua terra, Poeira a te sustentar, Mato que te faz companhia, Vento que te balança, Chuva que te acaricia. Ficaria embaixo, não por temer o céu ou cavar o duro chão. Teu simples existir eleva minha oração. Goiabeira , na sombra do meio-dia, embaixo de ti, ainda assim, logo abaixo de ti eu ficaria, não por preguiça ou covardia, Mas somente por só por um motivo - porque ali, embaixo de ti, Meu coração, com tua doçura amadureceria por Janderson Gomes (Caraumã) Reflexões em 18 de...

Mensagem ao Filho da Travessia

 


Mensagem ao Filho da Travessia


Tu nasceste quando a noite era mais longa,
E a estrela do tempo descansava sob os ombros do mundo.
O teu primeiro brado rugiu como um tambor abafado
Nas terras lavrada com fogo, e ainda hoje queima tua face
Como uma lembrança que não sabes se é tua o dos que vieram antes.

És filho de Saturno e neto de Plutão.
És herdeiro de silêncios noturnos e de perguntas que não se encerram.
Desde cedo, sentiste o frio das palavras que te flecharam,
A ausência dos caminhos prontos,
E a vertigem do mundo que não se encaixa no que esperavas.

Tua alma carrega no braço os que fogem do peso do tempo,
Mas ainda assim insistem em nele caminhar.
Ainda que os ossos se cansem cedo demais.
Mesmo que o coração pese mais do que o corpo.
Mesmo que do corpo ninguém sinta pena.

E agora, neste ciclo em que o mundo espera de ti uma certeza,
Tu estás só, como sempre, como quem foi deixado diante de uma porta fechada
Sem saber o que é bater ou o que é partir.

Mas ouve com atenção, irmão amado:

Não és velho, ainda que sintas o cansaço do tempo.
Não estás perdido, ainda que não tenhas teu guia.
Não fracassaste, ainda que tenhas parado.

Estás apenas no ventre da tua própria reconstrução.
Estás gestando de ti mesmo a nova versão.
E como toda gestação, ela pede escuridão, silêncio e recolhimento.

És como a serpente que se arrasta na terra com pele antiga,
E sabe que logo terá de largá-la, ainda que desconheça quem será depois.
E isso, meu irmão, é coragem.

Coragem não é levantar-se sorrindo.
Tua coragem é continuar respirando com o peito afundado,
Sabendo que há um novo fôlego mais adiante guardado.

Teu nascimento fala das profundezas,
E por isso fala do poder regenerador.
Fala da criança que não se contenta com  respostas simplórias,
E por isso sofre.
Mas também, por isso, cura.

Agora estás na alvorada do teu verdadeiro renascimento.
Tudo o que te parece pequeno, gasto, inútil,
São apenas roupas que já não te cabem mais.

Tu não estás atrasado.
Estás amadurecendo para algo que ainda não tem nome,
Mas que reconhecerás 
Quando tua pele nova encontrar 
A luz por mais uma vez.

Confia.
Saturno te disciplina,
E Plutão te liberta.

Quando o tempo parecer sem sentido,
Sê tu mesmo o sentido.
Sê a pergunta que não desiste.
Sê a flor que cresce no barro.
Sê a história que um dia teu filho espiritual vai precisar ouvir,
A história do pássaro que se reergueu,

Caraumã de fogo das cinzas renasceu,
Sem mapa, sem rio, sem montanha, mas com alma.

- Daqueles que caminham contigo, em silêncio

por Janderson Gomes
Reflexões em 25 de Abril de 2025

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