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Pintura: "Sementes", acrílico sobre madeira 77 x 50 cm

    Pintura "Sementes", acrílico sobre madeira 77 x 50 cm por J. Caraumã Na base da economia yanomami, a floresta não é, para eles, um espaço de exploração de recursos; ao contrário, é uma entidade viva, intimamente ligada à sua cosmologia. No livro A queda do céu , conta-se que os espíritos xapiri , por exemplo, colhem seus cantos a partir das árvores: “Omama plantou essas árvores de cantos nos confins da floresta, onde a terra termina, onde estão fincados os pés do céu […]. É a partir de lá que elas distribuem, sem trégua, suas melodias a todos os xapiri que correm até elas. São árvores muito grandes, cobertas de penugem brilhante de uma brancura ofuscante. Seus troncos são cobertos de lábios que se movem sem parar, uns em cima dos outros.” Essa floresta é chamada de Hutukara . Segundo a mitologia yanomami, Omama a criou no “primeiro tempo”, quando havia apenas os yarori (ancestrais sobrenaturais que hoje são os animais de caça) e uma floresta frágil. Para criar outr...

Adição de Velocidades na Teoria da Relatividade Especial


Para tanto, note que a teoria da Relatividade parte de dois postulados fundamentais, os quais, inclusive, um deles corrige alguns conceitos da teoria de Newton-Galileu. A exemplo, o postulado de que a velocidade da luz no vácuo tem o mesmo valor para todos os referenciais inerciais independentemente do movimento da fonte, o qual é, portanto, incoerente com a fórmula de adição das velocidades de Galileu e, consequentemente, incabível, neste caso, a possibilidade de "igualar" os resultados obtidos em ambas as teorias. 

Para comprovar tal fato, basta considerar por exemplo o seguinte caso: sejam \(\sum'\) e \(\sum\) dois referenciais inerciais (vagão e solo, respectivamente). Além disso, digamos que o vagão se move com uma velocidade u em relação ao solo, fixo. Suponha, inclusive, que um relógio imóvel no sistema \(\sum\) registrou um determinado intervalo de tempo \(\Delta{t}\) de \(t_{1}\) a \(t_{2}\), isto é,

\[\Delta{t} = t_{2} - t_{1}\]

Para determinarmos o valor \(t'_{1}\) correspondente a \(t_{1}\), e de modo similar, o valor de \(t'_{2}\) correspondente a \(t_{2}\), devemos, pois, de acordo com a Teoria da Relatividade Restrita utilizar as seguintes Transformações de Lorentz

\begin{equation} \begin{split} t_{1} &= \frac{\displaystyle\frac{u}{c^{2}}x'_{1} + t'_{1}}{\sqrt{1 - \displaystyle\frac{u^{2}}{c^{2}}}}\\ t_{2} &= \frac{\displaystyle\frac{u}{c^{2}}x'_{1} + t'_{2}}{\sqrt{1 - \displaystyle\frac{u^{2}}{c^{2}}}}\\ \end{split} \end{equation}

Das quais resulta

\begin{equation} \begin{split} \Delta{t} = t_{2} - t_{1} = \frac{\displaystyle\frac{u}{c^{2}}x'_{1} + t'_{2}}{\sqrt{1 - \displaystyle\frac{u^{2}}{c^{2}}}} - \frac{\displaystyle\frac{u}{c^{2}}x'_{1} + t'_{1}}{\sqrt{1 - \displaystyle\frac{u^{2}}{c^{2}}}} = \frac{t'_{2} - t'_{1}}{\sqrt{1 - \displaystyle\frac{u^{2}}{c^{2}}}} = \frac{\Delta{t}'}{\sqrt{1 - \displaystyle\frac{u^{2}}{c^{2}}}}\\ \end{split} \end{equation}

Observe que \(\Delta{t}' = t'_{2} - t'_{1}\) é o intervalo de tempo transcorrido no sistema \(\sum'\), enquanto que \(\Delta{t}\) é o intervalo de tempo entre \(t_{1}\) e \(t_{2}\) transcorrido no sistema \(\sum\). Dessa forma,

\begin{equation} \Delta{t}' = \Delta{t}\sqrt{1 - \displaystyle\frac{u^{2}}{c^{2}}} \end{equation}

isto é,

\begin{equation} \Delta{t}' < \Delta{t} \end{equation}

O resultado acima mostra que, no sistema \(\sum'\), o tempo passa ``mais lentamente'' do que no próprio sistema \(\sum\). 

E, antes de verificarmos a importância do resultado acima entre as teorias, veja que tal fato também pode ser entendido graficamente da seguinte forma. Considere a seguinte hipérbole descrita pela equação

\[x^{2} - c^{2}t^{2} = -c^{2}\Delta{t}^{2}\]

Seja A o ponto de interseção da hipérbole acima com o eixo \(Ot\). Assim sendo, a distância temporal da hipérbole até o ponto \(O\), isto é, o tempo transcorrido do evento \(O\) até o evento \(A\), é igual a \(\Delta{t}\) no sistema \(\sum\). Uma vez que \(AA'\) é paralelo ao eixo \(Ox\), os eventos \(A\) e \(A'\) são simultâneos no sistema \(\sum\). Entretanto, no sistema \(\sum'\), o tempo decorrido entre \(O\) e \(A'\) é igual a \(OA'\). Logo, \(OB\) é menor ou igual a \(T\).

A partir dos resultados acima, podemos notar dois fatos curiosos. 

Primeiro, a imutabilidade do tempo descrita por Newton parece incoerente diante da Teoria da Relatividade Restrita. Afinal, o próprio Newton descreveu o tempo, em seu famoso tratado Principia, da seguinte forma: 

"[...] Tempo absoluto, verdadeiro e matemático, por si só, e da sua própria natureza flui uniformemente, sem relação com qualquer coisa externa, e por outro nome, chamado duração [...]"

Veja que notadamente a introdução de tempo absoluto dada por Newton entra em contradição com o resultado matemático obtido logo acima, afinal, tal resultado permite concluir que o tempo depende do estado de movimento do observador em relação a algum referencial.

Segundo, para velocidades \(u << c\), o atraso entre os relógios é muito pequeno, se comparado com o que pode ser realmente observado com os instrumentos atuais.

Portanto, propor que ambas as velocidades devam concordar exatamente entre si, é como propor que o tempo descrito por Einstein é o mesmo descrito por Newton. Em outras palavras, é propor que a constante \(\pi\) deva ser exatamente \(3,14159265359\), onde, aquele é irracional e este é racional, ambos conceitualmente distintos.

Adição de Velocidades Não-Paralelas

Vejamos agora, como calcular a resultante da composição de duas velocidades através da Teoria da Relatividade Restrita, sabendo que tal teoria está intimamente ligada com o modelo matemático do espaço de  Minkowski (Pseudo-Euclidiano). 

Dessa forma, de modo similar às proposições acima, sejam \(\sum''\), \(\sum'\) e \(\sum\) três referenciais inerciais (observador, vagão e solo, respectivamente), os quais seus eixos são parelelos e em susseção direta (forma padrão), assim caracterizado na situação proposta. Seja \(\vec{v}\) a velocidade de um observador móvel \(\sum''\) no referencial inercial \(\sum'\), enquanto que a velocidade de \(\sum'\) no referencial \(\sum\) é \(\vec{u}\).

Assim sendo, o problema proposto é encontrar qual a velocidade \(v\) do referencial \(\sum''\) no referencial \(\sum\). Assim sendo, indiquemos por \(w\) tal velocidade e calculemos suas componentes.

Para tanto, conhecendo-se a transformação de Lorentz inversa na configuração padrão, as equações das diferenciais \(dx_{1}\), \(dx_{2}\), \(dx_{3}\) e \(dt\) são dadas por

\begin{equation} \begin{split} dx_{1} &= \gamma_{u} (dx'_{1} + u dt')\\ dx_{2} &= dx'_{2}\\ dx_{3} &= dx'_{3}\\ dt &= \gamma_{u} \left(dt' + \frac{u}{c^{2}} dx'_{1}\right){}\\ \end{split} \end{equation}

onde o fator de Lorentz é dado por \(\gamma_{u} = \displaystyle\frac{1}{\sqrt{1 - \displaystyle\frac{u^{2}}{c^{2}}}}\). Observe que as coordenadas perpendiculares à direção do movimento relativo não mudam, por outro lado, a coordenada paralela e o tempo são transformados. Note que esse fato difere do da transformação de Galileu.

Assim, dividindo-se as três primeiras expressões pela quarta expressão, obtemos que

\begin{equation} \begin{split} \frac{dx_{1}}{dt} &= \frac{\gamma_{u} (dx'_{1} + u dt')}{\gamma_{u} \left(dt' + \displaystyle\frac{u}{c^{2}} dx'_{1}\right)} = \frac{dx'_{1} + udt'}{dt'\left(1 + \displaystyle\frac{u}{c^{2}}\frac{dx'_{1}}{dt'} \right)} = \frac{\displaystyle\frac{dx'_{1}}{dt'} + \displaystyle u\frac{dt'}{dt'}}{\left(1 + \displaystyle\frac{u}{c^{2}}v_{x'_{1}} \right)}\\ \frac{dx_{2}}{dt} &= \frac{dx'_{2}}{\gamma_{u} \left(dt' + \displaystyle\frac{u}{c^{2}} dx'_{1}\right)} = \frac{dx'_{2}}{dt'\left(1 + \displaystyle\frac{u}{c^{2}}\frac{dx'_{1}}{dt'} \right)\gamma_{u}} = \frac{\displaystyle\frac{dx'_{2}}{dt'}}{\left(1 + \displaystyle\frac{u}{c^{2}}v_{x'_{1}} \right)\gamma_{u}}\\ \frac{dx_{3}}{dt} &= \frac{dx'_{3}}{\gamma_{u} \left(dt' + \displaystyle\frac{u}{c^{2}} dx'_{1}\right)} = \frac{dx'_{3}}{dt'\left(1 + \displaystyle\frac{u}{c^{2}}\frac{dx'_{1}}{dt'} \right)\gamma_{u}} = \frac{\displaystyle\frac{dx'_{3}}{dt'}}{\left(1 + \displaystyle\frac{u}{c^{2}}v_{x'_{1}} \right)\gamma_{u}}\\ \end{split} \end{equation}

isto é,

\begin{equation} \begin{split} w_{x_{1}} &= \displaystyle\frac{v_{x'_{1}} + u}{1 + \displaystyle\frac{u}{c^{2}}v_{x'_{1}}}\\ w_{x_{2}} &= \displaystyle\frac{v_{x'_{2}}}{1 + \displaystyle\frac{u}{c^{2}}v_{x'_{1}}}\sqrt{1 - \frac{u^{2}}{c^{2}}}\\ w_{x_{3}} &= \displaystyle\frac{v_{x'_{3}}}{1 + \displaystyle\frac{u}{c^{2}}v_{x'_{1}}}\sqrt{1 - \frac{u^{2}}{c^{2}}}\\ \end{split} \end{equation}

Observe que \(w_{x_{2}}/v_{x'_{2}} = w_{x_{3}}/v_{x'_{3}}\) e, portanto, os azimutes nos dois sistemas são iguais. 

Além disso, considerando-se que ambas as velocidades estão dispostas num mesmo plano \(x_{1}\textrm{-}x_{2}\), tem-se que \(w_{x_{1}} = w\cos{\theta}\), \(w_{w_{2}} = w\sin{\theta}\), \(v_{x'_{1}} = v\cos{\theta'}\) e \(v_{x'_{2}} = v\sin{\theta'}\). Portanto, o módulo da velocidade \(\vec{w}\) é dada por

\begin{equation} \begin{split} w & = \sqrt{w_{x_{1}}^{2} + w_{x_{2}}^{2}}\\ & = \sqrt{\left(\displaystyle\frac{v_{x'_{1}} + u}{1 + \displaystyle\frac{u}{c^{2}}v_{x'_{1}}}\right)^{2} + \left(\displaystyle\frac{v_{x'_{2}}}{1 + \displaystyle\frac{u}{c^{2}}v_{x'_{1}}}\sqrt{1 - \frac{u^{2}}{c^{2}}}\right)^{2}}\\ & = \frac{\sqrt{(v_{x'_{1}} + u)^{2} + \left(v_{x'_{2}}\displaystyle\sqrt{1 - \frac{u^{2}}{c^{2}}}\right)^{2}}}{1 + \displaystyle\frac{u}{c^{2}}v_{x'_{1}}}\\ & = \frac{\sqrt{(v\cos{\theta'} + u)^{2} + \left(v\sin{\theta'}\displaystyle\sqrt{1 - \frac{u^{2}}{c^{2}}}\right)^{2}}}{1 + \displaystyle\frac{u}{c^{2}}v\cos{\theta'}}\\ & = \frac{\displaystyle\sqrt{v^{2}\cos^{2}{\theta'} + u^{2} + 2uv\cos{\theta'} + v^{2}\sin^{2}{\theta'} - \displaystyle\frac{u^{2}}{c^{2}}v^{2}\sin^{2}{\theta'}}}{1 + \displaystyle\frac{u}{c^{2}}v\cos{\theta'}}\\ & = \frac{\displaystyle\sqrt{v^{2}(\cos^{2}{\theta'} + \sin^{2}{\theta'}) + u^{2} + 2uv\cos{\theta'} - \left(\displaystyle\frac{uv}{c}\sin{\theta'}\right)^{2}}}{1 + \displaystyle\frac{u}{c^{2}}v\cos{\theta'}}\\ & = \frac{\displaystyle\sqrt{v^{2} + u^{2} + 2uv\cos{\theta'} - \left(\displaystyle\frac{uv}{c}\sin{\theta'}\right)^{2}}}{1 + \displaystyle\frac{uv}{c^{2}}\cos{\theta'}}\\ \end{split} \end{equation}

Observe que considerando-se \(\theta' = 0º\). Temos que,

\begin{equation} \begin{split} w &= \frac{\displaystyle\sqrt{v^{2} + u^{2} + 2uv\cos{0º} - \left(\displaystyle\frac{uv}{c}\sin{0º}\right)^{2}}}{1 + \displaystyle\frac{uv}{c^{2}}\cos{0º}}\\ &=\frac{\displaystyle\sqrt{v^{2} + u^{2} + 2uv}}{1 + \displaystyle\frac{uv}{c^{2}}}\\ &=\frac{\displaystyle\sqrt{(v + u)^{2}}}{1 + \displaystyle\frac{uv}{c^{2}}}\\ &=\frac{v + u}{1 + \displaystyle\frac{uv}{c^{2}}}\\ \end{split} \end{equation}

Note que o resultado acima concorda com a expressão utilizada por Einstein para encontrar a velocidade do referido observador relativamente ao solo. ■



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