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Quem não fecha os olhos quando sente dor?

Lembrou um poema, que dizia: "De tudo, ao sofrimento foi atento, E com empenho, e sempre, e tanto, Que mesmo em face do maior tormento, Seu peito exclamou: nunca mais eu canto!" E cerrando os olhos com dor Em cada lágrima, cada pranto, Bebeu em versos seu dissabor, E se fechou no próprio manto. O céu se vestiu com noite, sem cor, Fechou os olhos em silêncio e com temor, Acendeu no escuro a chama dos olhos da alma, E encontrou no vazio o leito que lhe acalma. O vagalume apagado perguntou: De quem são esses olhos que a noite procura, No frio desse silêncio, na escuridão serena? Quando a alma, qual neblina, flutua, obscura, E a dor, em grito velado, tem sido mais amena. A noite respondeu: São tochas acesas de fogo contra fogo, Encerrando a morte num caixão de vida; No clamor da provação, a alma reerguida, Veja, pirilampo, com teus olhos, tudo de novo. por Janderson Gomes, reflexões em 14 de agosto de 2024 ⁂

Doeu tanto, que nem senti direito


Doeu tanto, que nem senti direito

Ouvir-te dizer - eu te mato! 
Tão distante, após ser desamparado
Ái! Doeu tanto, que nem senti direito
Esse foi o Primeiro ato.

- Filho meu não é preto, dissestes.
Preto, tu és, de outro e sem retrato.

Oh, Deus que estás no céu! Pensei,
Sou infante, sou pueril, sou teu filho e sou grato!

Hei de viver sem pai? Indaguei
Todos os pais do mundo, agora herdei?

Ouvir-te dizer - eu te amo!
Tão distante, após ser desamparado
Ái! Doeu tanto, que nem senti direito
Esse foi o Segundo ato.

- Filho meu, essa dor em ti, quem tomou foi eu.
Já não posso viver aí contigo, mas vive tu em pensamento meu

Oh, Deus que estás no céu! Pensei,
Sou infante, sou pueril, sou teu filho e sou grato!

Hei de viver sem mãe? Indaguei
Todas as mães do mundo, agora herdei?

Não saber dizer - eu te amo!
Tão distante, após ter te desamparado
Ái! Doeu tanto, que nem senti direito
Esse foi o Terceiro ato.

- Amor meu, morrestes antes de nascer.
Vives tu, agora, desvairado, sempre procurando renascer?

Oh, Deus que estás no céu! Pensei,
Sou adulto, sou maduro, sou teu filho e fui ingrato!

Hei de viver sem amor? Indaguei
Todos os amores do mundo, agora herdei?

Ontem lembrei, eu cá cheio de pai, cheio de mãe e cheio de amor
Talvez possa até não doer, pois estou cheio de tudo, menos da vontade de viver

Hoje pensei, eu cá com pouco de pai, pouco de mãe e pouco de amor
O que mais quero é viver, mesmo que um pouco de mim, em cada esquina deixei morrer

Oh, Deus que estás no céu! Pensei,
Sou homem, sou falho, sou teu filho e sou grato!

Quem diria, preto e sem retrato, 
Também todo louco e alucinado,
Desasseado mal amado, abandonado.
Cheio do amor, no peito, transbordado.

Pensando além do bem e do mau, coitado!

Foi quando ouvi dizer o vento:
Sozinho, não estais.
Por Deus, és, mesmo que duvidais,
Filho dos muitos e também amado!
Ainda que poeta, sem rima e desatento.

por Janderson Gomes,
Reflexões em 15 de Julho de 2024.




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